Aquela noite
Ele não precisava ter ido, essa era a verdade. Podia ter inventado uma desculpa, ou chegado tarde, ficado só um pouco, e logo ir embora. Eu estava ansiosa por saber qual seria o comportamento dele naquela noite, na "minha" noite, mas também tinha prometido a mim mesma que, com ou sem a presença dele, eu iria me divertir.
Para minha total surpresa, ele chegou cedo, pouco antes das onze horas. Estava impecavelmente bem trajado num estiloso terno preto. Por coincidência, a gravata vermelha que usava era da mesma cor do meu vestido. Timidamente, cumprimentou meus outros convidados e depois a mim. Sempre cumprimentava os outros primeiro e me deixava por último. Isso me irritava profundamente. Nunca entendi por que ele fazia aquilo.
Ele estava suando muito. Deu-me os parabéns e foi só. Não quis se sentar na mesa com os outros. Sugeriu que fôssemos até o bar tomar um refrigerante. Nosso amigo Pedro nos acompanhou. Enquanto tomávamos o refrigerante, ele me deixou sozinha com Pedro, dizendo que ia "tomar um ar lá fora".
O comportamento dele sempre foi uma incógnita tão grande para mim. Sempre o imaginava cercado de mulheres lindas, um dom Juan sedutor e aventureiro, não pelo que eu via ou ouvia a respeito dele, mas pelo o que ele mesmo costumava me dizer. Mas, no dia-a-dia, eu não via isso acontecer.
Nas horas que passávamos juntos, ele normalmente era agradável, alegre, animado. Mas muitas vezes eu via um olhar desconfiado naquele semblante. Às vezes ele me olhava de longe, não sorria, nem fazia cara feia, apenas me cumprimentava com um leve e quase imperfectível meneio. Havia dias, no entanto, em que ele estava em evidente euforia. Nem eu mesma, tão falante e animada, conseguia concorrer com tanta jovialidade. Às vezes precisava que ele fosse um pouco mais sereno, mais tranquilo, que acalmasse meu coração em conflito.
Nossa amizade era como um riacho borbulhante e sem muitas curvas, mas as águas eram meio turvas. Como qualquer amigo, emprestávamos