Análise do auto da barca do inferno
A presente análise da obra Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente baseia-se nos capítulos “As Personagens” e “Tipos de Língua e Bilinguismo” de Gil Vicente – o Autor e a Obra escrito por Paul Teyssier. Quando estudamos as personagens criadas por Gil Vicente é impossível não perceber o quão particular elas são. Elas fazem parte de uma sociedade bem organizada, em que Teyssier as separa e classifica. Deteremo-nos, porém, somente as personagens que aparecem no Auto da Barca do Inferno e suas classificações.
Primeiramente, ocupam a maior parte da peça o Anjo e o Diabo – com seu Companheiro –, tais personagens são Provenientes da Tradição Cristã. Eles têm papéis contraditórios, este é responsável pela perdição, aquele, pela salvação. Particularmente, o Diabo possui maior expressão na peça, dessa forma ele torna todas as situações um deboche. Vindo da tradição cristã, tem-se ainda o Frade, que será melhor explicado abaixo, pois ele pertence concomitantemente a duas categorias.
Teyssier classifica as personagens também como Tipos, ou seja, elas “são seres humanos em parte inteira mas que encarnam traços coletivos de um grupo” (p. 118). Desta forma, Gil Vicente consegue fazer o destino delas impessoal e modelo. Além disso, esse recurso ajuda a construir uma sátira da sociedade.
Para a classificação de Tipo quase todas as personagem é avaliado pela condição social: no tipo elevado da sociedade acha-se o Fidalgo, opressor do povo, com seu servo, sua cadeira e sua longa capa; no da igreja, tem-se o Frade com sua moça, mostrando sua concubinagem; no da magistratura encontramos o Corregedor, com sua vara, e o Procurador, com seus livros; no do comércio têm-se o Sapateiro, com seu avental e moldes, e, ainda, o Onzeneiro, com um bolsão de dinheiro; no de alcoviteira acha-se Brísida Vaz, com sua bagagem de mentira e enganação; no dos rústicos encontra-se Joane, o parvo; e em um tipo marginal