Analise Auto da Barca do Inferno - Gil Vicente
A obra Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, maior dramaturgo português, foi publicada em 1517, impressa em forma de cordel. Pertence ao primeiro Renascimento. Por isso é meio primitivo e ainda preso a técnicas e princípios medievais. A peça foi encenada pela primeira vez na presença do rei D. Manoel I e de sua irmã D. Leonor na câmara da rainha D. Castela. Gil Vicente era o dramaturgo preferido dos reis, viveu maior parte de sua vida em Lisboa, era ourives e poeta. Suas obras não seguiu um padrão fixo e não há registros de existência de teatro antes dele em Portugal. Gil Vicente preocupou-se com a sistematização de uma ética para seu tempo. Julgava que progresso sem ética era ilusão para apressadinhos. Em sua obra, procura demonstrar que a vida terrena deve se guiar por princípios religiosos, claramente assumidos. Concretizam-se esses princípios mediante alegoria de um julgamento após a morte, de que participam o Diabo e o Anjo. O cenário é uma espécie de porto, onde se encontram duas barcas. Trata-se de uma espécie de figuração do Juízo Final. Condenações e absolvições seguem o rígido código da moralidade cristã, entendida em sua versão ascética e medieval. Apesar disso, o autor emprega humor e o sarcasmo para denunciar o apego do homem à vida terrena, envolvido em paixões, desejos e vícios. O anjo e o demônio são figuras paradoxais no cenário do Auto da Barca do Inferno. O Anjo é sem graça; só consegue dar boas vindas a um bobo e a quatro cruzados que morreram pela expansão do cristianismo, no norte da África, em luta contra os islamitas. O diabo é liberal; recebe todo mundo com humor e simpatia, ainda que falsa. Só não recebe o Judeu, por razões bastante complexas. Em Portugal, na ocasião, houve diversos tumultos de cristãos contra judeus. Isso, de certa forma, está representado na obra. Na verdade