Análise Textual - Auto da Barca do inferno
(Gil Vicente)
capacidade de conquistar e entusiasmar espectadores e leitores. A simplicidade dramática e o poder ferino de suas críticas sociais parecem explicar, pelo menos em parte, essa popularidade ganha em todos os meios e classes sociais. Gil Vicente não perdoou nenhum grupo social ou profissional em suas mordazes observações da decadência moral que tomava conta do Portugal próspero do período expansionista.
O Auto da barca do inferno é um bom exemplo desse poder crítico, bem como dos valores morais e religiosos pretendidos pelo autor em sua dramaturgia. Na peça estão presentes o moralismo medievo de herança católica e da Inquisição e também a representação mais forte dos grupos sociais que compunham a nação lusitana desde a Idade Média: sapateiros, corregedores, juízes, alcoviteiras, trapaceiros, fidalgos, usurários, cavaleiros e padres. A crítica a tipos sociais tão variados leva o espectador/leitor à observação de um painel social amplo que se pretendia modificar ou pelo menos moralizar por meio do teatro de costumes.
As personagens do Auto da barca do inferno não são pessoas, indivíduos com autonomia ou psicologia própria, mas meros arquétipos1. Isso caracteriza a peça como teatro alegórico. As personagens são personificações alegóricas ou tipos reais caricaturados, o que indica a clara intenção do escritor a propósito de sátira social. A intenção aparentemente religiosa vê-se obscurecida ou pelo menos minimizada pelo gosto de sátira da própria sociedade. A alegoria religiosa serve de mero pretexto para a sátira profana.
O Auto da barca do inferno pode ser também classificado entre as peças vicentinas como auto religioso de moralidade, porque pretende comentar ensinamentos religiosos ou morais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
1. BIOGRAFIA E BIBLIOGRAFIA
A respeito do nascimento de Gil Vicente, só se sabe que deve ter sido em Guimarães em 1465 ou