Análise comparada de Vidas Secas: Literatura e Cinema
Vidas Secas: Literatura e Cinema
Danilo J. O.
2015
Análise comparada de Vidas Secas: Literatura e Cinema
O diretor Nélson Pereira dos Santos realizou o desafio de transpor para o cinema o romance Vidas Secas(1938) de Graciliano Ramos, surpreendendo a todos pela fidelidade estética cinematográfica alcançada, ao ponto de tornar-se o único filme brasileiro a ser indicado pelo”British Film Institute” como uma das 360 obras fundamentais em uma cinemateca. Produzido e ambientado no sertão de Alagoas, mostra, em preto e branco, a caminhada da família de retirantes, flagelados pela seca, em uma parte do Brasil sofrida, arcaica e atrasada. Foi lançado em 1963, durante um cenário político, pós JK, que deixava a promessa, dos 50 anos de avanço em 5, para um precário sertão nordestino onde a luta pela sobrevivência, contra o Sol, a terra e os homens, se fazia necessariamente diária.
As personagens do romance Vidas Secas são lacônicas, pouco há de suas falas escritas em primeira pessoa, as quais resumem-se, basicamente, à resmungos, interjeições monossilábicas, curtos diálogos sem maior desenvolvimento e alguns pensamentos altos que parecem escapar à apropriação do narrador, contudo, é possível afirmar que a obra cinematográfica, inspirada no livro, é algo ainda mais silencioso, contudo, não menos inteligível.
Enquanto a narrativa do livro, em discurso indireto livre, apresenta grande parte da subjetividade das personagens confundidas com a voz narrativa, a escolha de eliminá-la do filme limitou o acesso do expectador ao discurso interno das personagens, inclusive, emudecendo completamente a voz da personagem Baleia, cujos pensamentos e sentimentos, por se tratar de uma personagem animal e realista, temos contato estritamente pelo discurso indireto livre do narrador.
No filme, apesar de não conhecermos em palavras os pensamentos de Baleia, ela aparece tão humanizada quanto