antropologia
:: JORNAL DA UNICAMP ::
C ampinas , 1 2 a 1 8 de abril de 2 0 1 0 – A N O XXI V – N º 4 5 7
| E XP E D I E N T E | A SSI N E O J U |
Antropologia, ciência e tecnologia
POR MARKO MONTEIRO
A antropologia, nos últimos anos, tem sido convocada para pensar uma diversidade enorme de temas para além daqueles tópicos que lhe são mais tradicionais: sociedades não ocidentais, povos isolados, ou grupos subordinados. Um desses temas, que ultimamente tem gerado um grande interesse na disciplina, é o estudo de temas relacionados à ciência e a tecnologia.
Poucos tópicos, no entanto, poderiam ser pensados como mais distantes do foco tradicional da etnografia e da antropologia: a ciência é tida como a forma mais ocidental de pensar o mundo, sendo na nossa sociedade contemporânea a detentora do monopólio da verdade sobre a natureza, em detrimento de conhecimentos tidos como
“tradicionais” ou “folclóricos”.
A tecnologia, por sua vez, é percebida como a legitimadora desse monopólio: a inovação constante, que gera formas de domar os processos naturais em favor do homem, é pensada por muitos como a prova de que a ciência é capaz de compreender e prever a realidade como nenhuma outra forma de conhecimento. Além disso, a tecnologia é pensada como a forma de resolução de grande parte dos problemas humanos, desde a fome até a doença, chegando agora até na possibilidade de reconstrução total do humano pela via da genética e na superação da morte.
“Na melhor tradição antropológica, as mais recentes etnografias de práticas científicas buscam repensar e tornar mais complexa a nossa compreensão acerca de como o conhecimento gerado em laboratório circula socialmente e ajuda a produzir a própria sociedade”
Seriam então a ciência e a tecnologia temas pouco passíveis de compreensão pela antropologia, por meio do método etnográfico? Deveríamos então, enquanto antropólogos, nos ater ao nosso campo já consagrado de estudos? Gostaria aqui de