Introdução O corpo é um instrumento natural do homem. Para Foucault, em qualquer sociedade o corpo é um lócus de poder, sujeito a coerções e domínios ou a experiências de confronto e resistência. Dentro dessa perspectiva, o corpo se sobrepõe aos limites do biológico, às condições materiais de vida, e assume também dimensões socioculturais fundamentais. Atualmente, houve uma mudança nos padrões: a corpulência, que no passado já esteve associada a ideia de saúde no imaginário coletivo, tem seu significado completamente transformado em algumas sociedades. Para Fischler: “[...] há um século nos países ocidentais desenvolvidos os gordos eram amados; hoje, nos mesmos países, amam-se os magros”. As preocupações relacionadas ao corpo variam entre as camadas sociais. Quanto mais elevada a hierarquia social, maiores são os cuidados estéticos. Nas classes sociais privilegiadas, observa-se o maior consumo de produtos de tratamento para o corpo e a prática de um estilo de vida mais saudável. Inversamente, segundo Boltanski, a atenção prestada ao corpo nas classes populares pode ser menos frequente. Particularmente neste grupo, o uso do corpo pode compreender uma visão mais utilitária, fruto da importância da força física nas ocupações desempenhadas. No Brasil, o estudo de Zaluar revelou que para as mulheres das classes populares a obesidade era por vezes valorizada como elemento de força. Silva, por sua vez, verificou em seu estudo com mulheres obesas de baixa renda que a obesidade era um atributo sexual importante no grupo. O corpo erótico e sensual era representado pelas formas arredondadas. Para Muraro, as mulheres pobres “não se vêem com seus próprios olhos: elas se vêem com os olhos do homem [...]”. A partir desta consideração, este estudo buscou uma aproximação com o vocabulário sobre o corpo, a vida, o trabalho e a obesidade em mulheres moradoras da favela da Rocinha, usuárias de uma unidade básica de saúde do município do Rio de