Antropologia
GIDDENS, Anthony. Tradição. In : --------. O mundo em descontrole : o que a globalização está fazendo de nós. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro : Record, 2000. p. 47-60
Tradição
Quando os escoceses se reúnem para celebrar sua identidade nacional, fazem-no de maneiras impregnadas de tradição. Os homens usam o kilt, tendo cada clã seu próprio tartã, e seus cerimoniais são acompanhados pelo lamento das gaitas de fole. Por meio desses símbolos, demonstram sua lealdade a antigos rituais, cujas origens mergulham num passado distante.
Seria interessante, se fosse verdade. Mas, juntamente com a maioria dos demais símbolos da nacionalidade escocesa, todos estes são criações bastante recentes. O kilt curto parece ter sido inventado por um industrial inglês do Lancashire, Thomas Rawlinsoll, no início do século XVIII. Ele resolveu alterar os trajes até então usados pelos habitantes das Highlands de modo a torná-los convenientes para operários.
Os kilts foram produtos da revolução industrial. Seu objetivo não foi preservar costumes veneráveis, mas o contrário - afastar os highlanders das urzes e levá-los para a fábrica. O kilt não apareceu como o traje nacional da Escócia. Os lowlanders, que formavam a ampla maioria do povo escocês, viam os trajes usados nas Highlands como um forma bárbara de vestuário que em geral encaravam com algum desprezo. De maneira semelhante, muitos dos tartãs de clã hoje usados foram traçados durante o período vitoriano, por alfaiates empreendedores que, com razão, viram neles um mercado.
Muito do que supomos tradicional, e imerso nas brumas do tempo, é na verdade um produto no máximo dos últimos dois séculos, e com freqüência é ainda mais recente. O caso do kilt escocês vem de um célebre livro de autoria dos historiadores Eric Hobsbawm e Terence Ranger, chamado The lnvention of Tradition. Eles dão exemplos de tradições inventadas tomados de uma variedade de países diferentes, entre eles a Índia colonial.
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