Antropologia

A Escrita etnográfica - Exercício
I – Uma descrição densa
Uma das caracterizações mais acionadas sobre a escrita etnográfica é aquela apresentada pelo antropólogo norte americano Cliford Geertz (1989), num texto que se tornou uma referência entre os antropólogos, como “uma interpretação densa”. A pergunta que queremos explorar neste exercício é: o que confere densidade a esta escrita para que ela se diferencie de uma mera descrição, ou uma descrição superficial que não atenderia aos pressupostos de uma escrita etnográfica?
Neste exercício vamos buscar compreender esta densidade sem, contudo, termos a pretensão de esgotar esta questão. Afinal, não se pode estabelecer uma receita para obter a “densidade” da descrição como se a escrita etnográfica fosse um ponto de doce ou massa de bolo, mas algumas coisas podemos dizer:
1. Trata-se de uma descrição rica em detalhes, que apresente como era o lugar observado, os caminhos para chegar lá, o ambiente do entorno, as pessoas encontradas e acontecimentos (ações, pequenos incidentes, falas, diálogos, gestos, comportamentos etc) que tiveram lugar durante o tempo da observação. É importante permitir ao leitor do relato etnográfico imaginar que esteve lá, assim como o observador e autor do relato.
2. É uma descrição situada no presente, mas que assume a historicidade e a espacialidade do ambiente observado. Tudo acontece num certo tempo e lugar e tem uma duração, uma história. Os lugares tem história assim como as pessoas. Qual a história do lugar? Que modificações este passou ao longo do tempo? Há alguma transformação prestes a ocorrer?
3. O observador deve ter o olhar voltado ao mesmo tempo para o que se passa fora e dentro de si. Ou ainda para os efeitos que o ambiente observado produz em si. Isto quer dizer que deve observar os outros e se observar observando os outros. Uma boa coisa para desenvolver esta auto percepção aguçada é usar a própria percepção através dos cinco sentidos: cheiros, tatos, escutas, sons.