Nietzsche e o deserto do Niilismo
O capítulo de Clademir Araldi se inicia com a surpresa do próprio Nietzsche por ser tomado por “pensamentos tão abissais como o eterno retorno” (ARALDI, 2004). O eterno retorno relaciona-se com o negativismo atrelado à anunciação da “morte de Deus”, pois a idéia do fim do sentido e segurança que o “ser supremo” garantia leva o homem a navegar pelo nada, sem sentido e sem a verdade suprema, submetido à eterna repetição do “mais pesado dos pesos”. Deste modo, sendo o pensamento de que “tudo retorna infinitas vezes, na mesma ordem e sequência” (ARALDI, 2004) o eterno retorno leva o homem a um abismo.
Para lutar contra este abismo, Nietzsche traz, então, a idéia do além-do-homem, que levará o homem a “suportar o eterno retorno e sua incomensurabilidade” (ARALDI, 2004). O além-do-homem seria a luz frente o niilismo, pois após a ruína dos valores o homem conquista a sua liberdade para novas criações. Deste modo, Nietzsche não vê essa perda do sentido da existência como algo negativo, impregnado de niilismo, mas sim como a possibilidade do homem de se reinventar, criando o seu próprio sentido, uma visão livre de si mesmo.
Essa possibilidade de reinvenção leva Nietzsche a ver o além-do-homem como o “sentido da terra”. O filósofo vê o homem com um essência mutável, uma transição (estar-a-caminho), colocando o ser humano como uma ponte entre o animal e o além-do-homem. Assim, da mesma forma que o macaco é um riso ou uma dolorosa vergonha para o homem, o homem também possui esta imagem frente o além-do-homem. Nietzsche, então, conclui que somente o além-do-homem é capaz de criar novas tabuas de valores que substituirão aqueles perdidos após a “morte de Deus”.
O niilismo era visto como resultado da criação moral cristã e começou a tomar primeiro plano nos pensamentos do autor após Zaratustra III. A crise da chamada “vontade de verdade”, caracterizada por Nietzsche como o triunfo da moralidade cristã sobre o