antropologia

4218 palavras 17 páginas
Audiovisual, cultura e alteridade em Como era gostoso o meu francês.
Prof.a Regina Mota1
Resumo
Este artigo, inspirado pelo filme “Como era gostoso o meu francês” (SANTOS, 1970), analisa o ritual antropofágico Tupinambá em três eixos, que correspondem à perspectiva etnográfica e histórica, à poética modernista e a sua reedição no cinema novo tropicalista. Nossa hipótese de pesquisa é a prevalência da constante antropofágica como um dos marcadores da cultura brasileira, que se manifesta pelo conflito enquanto método crítico, pela apologia à diferença, na produção de figuras de alteridade, e pela assunção de uma atitude anti-hierárquica com respeito aos “bons costumes civilizados”.
Nesse sentido é que a proposta do “retorno ao primitivo”, de Oswald de Andrade, preconizada há oitenta anos no Manifesto Antropófago (1928), é aqui atualizada num pensamento que privilegia o campo do audiovisual em sua potência noética.
Palavras-chave: cinema brasileiro, antropofagia, alteridade.
"As diferenças não existem para serem respeitadas, ignoradas ou subsumidas, mas para servirem de isca aos sentimentos, de alimento para o pensamento. Lures for feelings, food for thought". (Bruno
Latour)2
A escolha teórica dessa investigação assume a perspectiva antropofágica como operador conceitual, permitindo a análise histórica do ritual antropófago Tupinambá e estética da poética modernista e tropicalista, dentro de um princípio que reúne e faz coincidir o fazer artístico e o pensamento sobre o mundo.
O filme “Como era gostoso o meu francês”, de Nelson Pereira dos Santos, sugere diversas chaves de leitura construídas em narrativas que se sobrepõem: a fábula de Hans
Staden, os desenhos de De Brye, a carta de Villegagnon a Calvino, epígrafes de viajantes, cantos e costumes nativos, com o privilégio de um uso transgressivo do dispositivo cinematográfico, materializado na inquietude de uma câmera de mão que coreografa a ação e rompe com a noção de ponto de vista de um

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