Angustia e desamparo
Angústia e desamparo
VERA LOPES BESSET
Doutora em Psicologia (Paris V); Professora
Colaboradora do Mestrado e Doutorado em
Psicologia do IP/UFRJ; Membro da Associação
Universitária de Pesquisa em Psicopatologia
Fundamental; Coordenadora do GT
‘Psicopatologia e Psicanálise’ da Anpepp;
Pesquisador Associado ao NIPIAC (Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a
Infância e a Adolescência Contemporâneas) do
Instituto de Psicologia da UFRJ; Psicanalista;
Membro da Escola Brasileira de Psicanálise do
Campo Freudiano (EBP-ECF) e da Associação
Mundial de Psicanálise (AMP).
Travessa Euricles de Matos, 24; 22240-010Laranjeiras; Rio; UERJ. e-mail: besset@openlink.com.br
RESUMO
Entre os deuses, Amor é o mais amigo dos homens, pois cura-os
REVISTA MAL-ESTAR E SUBJETIVIDADE / FORTALEZA / V. II / N. 2 / P. 203 - 215 / SET. 2002
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ARTIGOS
VERA LOPES BESSET
de um mal imputado por Zeus: a separação de cada ser em duas metades , diz Platão, no Banquete . Nesse mito de origem da natureza humana, o amor é o que desfaz a divisão promovida por um Pai que, insatisfeito com seus filhos, torna-os incompletos .
Então, os homens, obrigados a buscar um parceiro, voltam a prestar homenagens ao deus maior. Eis uma figuração da conjugação entre o amor e o desamparo, onde o segundo aparece como condição necessária para o primeiro. Na clínica, o sinal de angústia desvela, por vezes, a situação de desamparo na qual a perda do amor mergulha o sujeito. Frente ao mal-estar na civilização, “amar e ser amado” é um dos métodos ao alcance do ser humano em sua busca pela felicidade. Um método cuja eficácia é limitada, pois a ausência do objeto amado ou de seu amor deixa o sujeito na infelicidade e no desamparo. Nesse sentido, a proposta da psicanálise, baseada na presença do analista, contraria o desígnio de Eros, que é converter o múltiplo em uno. “Eu e você somos um”, diz o apaixonado, imerso na ilusão promovida pelo
amor.