Analise regime escravista no brasil
A forma em que se estruturou o regime escravo no Brasil a fim de atender às necessidades de uma agricultura latifundiária e exportadora nas mãos de poucos proprietários consolidou três classes socais próprias durante a colônia: o Senhor (latifundiário, fazendeiro, senhor-de-engenho, senhor de escravos), o escravo (propriedade do senhor), e uma terceira, o “homem-livre”, pequeno lavrador que se distinguia do segundo pela prática do “favor”, uma relação de lealdade e prestação de serviços para com o Senhor, que lhe concedia moralmente a condição de pessoa, categoria muito importante numa sociedade dividida entre senhores e escravos. É a prática e o ideário que envolve e permeia as relações econômicas, políticas, sociais e morais entre essas três classes que serão objeto de estudo deste trabalho.
Para Roberto Schwarz, o regime escravista se encontrava fora do objeto da ciência política, na verdade, era um fato moral impolítico e abominável que não encontrava compatibilidade nem ideológica nem prática com o liberalismo europeu. Desse princípio Schwarz expõe o surgimento do liberalismo no Brasil como uma “idéia fora do lugar” (Schwarz, 1977). Ainda segundo o pensador, escravismo e liberalismo apareciam como duas coisas distintas e antagônicas, no desenvolvimento do capitalismo: o liberalismo consistiria no trabalho livre e assalariado, na especialização do trabalho, na produção do trabalho em um mínimo de tempo, na eficácia dessa produtividade, na modernização continuada, no desenvolvimento do capitalismo industrial, no ideário de autonomia da pessoa humana, na remuneração objetiva, e numa sociedade onde vigoraria a universalidade da lei, enquanto que no Brasil vigorava o trabalho escravo, o trabalho em um máximo de tempo, baseado no autoritarismo e na disciplina, no desenvolvimento do capital comercial, do latifúndio, e no ideário do “favor”, que consistia na dependência da pessoa, nos serviços