A DIAL TICA DA COLONIZA O
Alfredo Bosi1
A ESCRAVIDÃO ENTRE DOIS LIBERALISMOS
Segundo Bosi uma das maiores contribuições teóricas do marxismo foi ter descoberto que é nas práticas sociais e culturais, fundamente enraizadas no tempo e no espaço, que se formam as ideologias e as expressões simbólicas em geral. Questão que é núcleo temático em A Ideologia Alemã de Marx e Engels redigido em 1846.
Alfredo Bosi objetiva-se a desenhar o perfil ideológico do liberalismo que correspondeu, efetivamente, ao regime escravista a partir do momento em que o Brasil passou a integrar o livre mercado. Bosi afirma que para compreender as articulações da ideologia liberal com a prática escravista é preciso refletir sobre os modos de pensar dominantes da classe política brasileira que consolidou o novo Império entre 1831 e 1860 aproximadamente. Que atou, de forma eficaz, durante todo o período de edificação do Brasil como Estado autônomo a partir de um ideário de fundo conservador; no caso, um complexo de normas jurídico-políticas capazes de garantir a propriedade fundiária e escrava até o seu limite possível.
UM FALSO IMPASSE: OU ESCRAVISMO OU LIBERALISMO
A expressão, aparentemente dissonante, escravismo-liberalismo, foi, no caso brasileiro, somente um paradoxo verbal. Sua junção só se poria em contradição se atribuísse ao segundo termo, liberalismo, em seu conteúdo pleno e concreto, aquele elaborado pela burguesia como ideologia do trabalho livre ao longo da revolução industrial européia. Ora, esse fundo integral de liberalismo enquanto ideologia dominante, não existiu no período que se segue à Independência e vai até a primeira metade do Segundo Reinado.
Bosi passa a tratar da indagação: mas como é possível um liberalismo escravocrata? Para entender o caráter próprio dessa ideologia vitoriosa nos centros políticos do Brasil pós-colonial, se faz necessário examinar sua evolução interna que segue a ascensão dos grupos escravistas.
Esse núcleo conservador constituiu-se doravante