9 Resenha CERTEAU
No livro A cultura do plural, publicado em 19931, o historiador e antropólogo
Michel de Certeau inicia a segunda parte da obra, intitulada “Novos marginalismos”,
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0310635/CA
com o seguinte depoimento:
A universidade deve solucionar atualmente um problema para o qual sua tradição não a preparou: a relação entre cultura e a massificação de seu recrutamento. A conjuntura requer que ela produza uma cultura de massa.
As instituições quebram-se sob esse peso demasiadamente grande, igualmente incapazes (sejam quais forem os seus motivos) de responder à demanda que leva às suas portas o fluxo incessante dos candidatos e à dos estudantes cuja mentalidade e cujo futuro são estranhos aos objetivos presentes do ensino. Sob esse duplo choque, a universidade fragmenta-se em tendências contrárias. Umas procuram proteger-se da onda fortificando os muros pela seleção da admissão e radicalizando interiormente as “exigências” de cada disciplina por um controle mais rigoroso. Essa política do “não nos renderemos” visa defender a honra e os direitos da ciência estabelecida. Outros deixam a massa dos estudantes calcar sob os pés as guardas dos canteiros da tradição; eles se apóiam na “mistura” e na discussão para elaborar uma linguagem cultural nova. Há muito tempo essa política do diálogo, pelas incertezas e balbucios em que ela muitas vezes resulta, foi reduzida a ilhas acusadas de negligência, de ideologização e de incompetência. Os seus “produtos” são marcados e tratados convenientemente. Em um caso como no outro, são, por outro lado, os estudantes que pagam a conta, destinados ao matadouro do exame ou ao desemprego em
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virtude da falta de qualificação técnica.
Passados mais de dez anos da publicação do texto de Certeau, creio que os embates das duas tendências contrárias referidas pelo autor ainda persistem nas instituições acadêmicas espalhadas pelo mundo. Talvez não com a mesma intensidade de uma década atrás, mas os ecos deste