15 FACES DA CULTURA
Desenvolvimento Social e Investimento
Cultural Privado
* Leonardo Brant
Nos últimos tempos, cultura passou a fazer parte do vocabulário do mundo corporativo.
Impulsionadas pela presença cada vez mais marcante das leis de incentivo à cultura, existentes nos âmbitos federal, estadual e municipal, muitas empresas passaram a incluir a cultura como item estratégico para o seu posicionamento de mercado.
Criadas para se tornar ponte entre o setor privado e a cultura, vista como área de alto interesse para o desenvolvimento social, as leis foram comemoradas como uma via possível frente ao desmanche do setor, promovido pela Era Collor.
Parecia razoável a existência de um dispositivo que pudesse encontrar uma intersecção de interesse entre uma política pública e o capital, em benefício da sociedade. Perfeito, se a cartilha fosse cumprida à risca, o que significa que o governo teria de exercer sua função constitucional
de
planejador,
regulador
e
fiscalizador
da
sociedade,
implementando uma política capaz de separar o joio do trigo, listando ações e projetos considerados de interesse público. A empresa, por outro lado, agiria com ética e responsabilidade, destinando aqueles recursos a projetos de interesse social, desde que fossem de seu interesse comum.
A recente história das leis nos mostra, no entanto, um quadro completamente diferente disso, restringindo os benefícios do sistema a produtos e eventos artísticos, estreitando o entendimento da cultura à sua parte mais efêmera e menos importante no cumprimento do processo de desenvolvimento cultural da nação. Permite-se, por meio desses dispositivos, que toda sorte de projetos sem qualquer vínculo com o interesse público recebesse o "aval" do Ministério da Cultura, prontos para seguir seu caminho natural de acasalamento com o setor privado. E isso tem permitido que apenas projetos
de "maior apelo mercadológico" façam frente aos interesses empresariais. Aos feios, sujos e malvados resta a exclusão.