O vernáculo brasileiro
Que língua falamos no Brasil? Segundo Gilvan Müller de Oliveira, dizer que no Brasil se fala português no mínimo indica desconhecimento ou mesmo preconceito lingüístico. Seria intencional, por parte da política dominante, a aceitação dessa afirmação como verdade incontestável facilitando a política de repressão aos outros “falares” existentes em nosso país.
Houve, desde o período da colonização de nossas terras por parte dos portugueses, uma política de imposição da sua língua. “A ocupação efetiva do Brasil se deu a partir de 1532, com a distribuição de quinze capitanias hereditárias. Entre os séculos XVI e XVII a colonização ocorreu exclusivamente à conta dos portugueses.” (Houaiss, 1985, p. 95). Quando os portugueses aqui chegaram, nossas terras já eram habitadas por milhares de índios, falantes de centenas de línguas indígenas, ou seja, nosso país já era plurilinguísta muito antes da chegada dos portugueses. Devido à superioridade numérica dos indígenas até o século XVIII, os portugueses tiveram de aprender o Tupi ou língua geral, ocorrendo uma situação de bilinguismo.
Entre os anos de 1538 a 1855, milhões de escravos africanos foram trazidos ao Brasil, causando também influências sobre a língua, dada a aproximação desses negros com os brancos. Várias palavras do léxico africano fazem parte até hoje de nosso vocabulário e muitas mais, tanto indígenas quanto africanas, poderiam fazer parte do nosso vocabulário, não fosse a grande política de repressão que sofremos ao uso de outras línguas. Repressão tão devastadora, que entre 1834 e 1841, devido a um documento escrito por Marquês de Pombal, cujo conteúdo principal era a proibição ao uso de outras línguas, especificamente o uso da língua geral, causou a chacina de cerca de 40.000 pessoas só da região norte do país, entre negros e índios, que faziam o seu uso e que se rebelaram por não aceitarem essa determinação.
Não só os portugueses imigraram para o Brasil, mas