O tunel
Em busca de livros sobre ciúmes e derivados para uma pesquisa, dei de cara com O túnel, de Ernesto Sábato. E me dei conta do quão deficientemente somos educados, pelo menos no Brasil, acerca da literatura latinoamericana. Todo estudante secundarista já conhece Dom Casmurro, ou pelo menos já ouviu falar na saga de Capitu e Bentinho; com alguma sorte, fala-se também em Garcia Márquez ou em Pablo Neruda. Mas acho que nas escolas se fala bem mais em Dostoievski do que em Jorge Luis Borges. A boa literatura portenha — resquício talvez da velha rivalidade Brasil x Argentina — parece esquecida.
Pois falemos então dessa novela de Ernesto Sábato, que nasceu em Rojas, província de Buenos Aires, em 1911. Militante da Juventude Comunista e Doutor em física, Sábato chegou a trabalhar no Laboratório Curie, em Paris, antes de largar o mundo das ciências e se dedicar exclusivamente às letras, em meados da década de 40. Em meio a uma crise familiar e pessoal, assistiu à corrida pela ruptura do átomo de urânio: “Pensé que era el comienzo del Apocalipsis”, afirmou certa vez. E pôs-se então a escrever.
O túnel foi lançado em 1948, treze anos antes de Sobre Heróis e Tumbas, considerado a obra prima de Sábato. Mas não é propriamente um livro sobre ciúmes, como me haviam recomendado. É um livro sobre a solidão, sobre essa nossa incapacidade inerente de estendermos uma “ponte” ao outro, para que, a partir desse contato, fiquemos livres de nós mesmos. Uma coisa meio Fernando Pessoa, que termina numa oração pedindo “Senhor, livra-me de mim”.
O livro toma forma, narrado em primeira pessoa, de desabafo. Juan Pablo Castel é um reconhecido pintor que, preso pelo assassinato de Maria Iribarne - crime cuja autoria é confessada já na primeira página - procura reconstruir os fatos e os sentimentos que o levaram ao crime. De início, é possível pensar que Juan Pablo escreve em busca de perdão; mas ele se apressa em