O trote e o ritual
O trote universitário é um costume brasileiro, que teve origem nas
universidades européias durante a Idade Média. O trote é realizado no início do
período letivo com o pretexto de garantir a integração entre calouros e veteranos.
Tal evento consiste em um conjunto de atividades, que alternam entre os chamados
trotes leves, ou seja, atividades encaradas por ambas as partes – calouros e
veteranos – como brincadeiras, e os chamados trotes violentos, que variam entre
agressões e humilhações, e que podem, em casos extremos, causar a morte
dos envolvidos. O trote marca a passagem da vida escolar, que é característica
da infância, para a vida universitária acadêmica, que representa a entrada e
uma escolha que, a princípio, determinará a vida adulta. As forças pulsionais,
responsáveis pelos desejos enfrentam o caráter moralizante da cultura, que
reprime pulsões que a sociedade julga prejudicial ao convívio em comunidade. Na
hipermodernidade, essa moral foi abalada e seus valores estão em crise. O limiar
entre o bem e o mal foi desfeito, sendo assim, o indivíduo está livre para agir como
quiser. Esse é o comportamento que se apresenta no trote.
O rito de passagem pode ser definido como um ato, que mesmo sendo
vulnerável a modificações, mantém certas regras que perpetuam continuamente a
sua identidade. A essência do rito é, portanto, a repetição de um comportamento
estereotipado. A perpetuação da tradição tem como principal função oferecer aos
novos membros do grupo – e reafirmar para os antigos – um mundo de significados
e papéis que ditam as identidades, individual e coletiva, e que deverão ser mantidas,
mesmo com a substituição dos membros antigos, que deixam o grupo – no caso
das universidades, os alunos que se formam – pelos membros novos – os calouros.
Essa imposição de papéis que mantém a estrutura estável é, segundo McDougall1,
uma das cinco condições para elevar a vida