O sol de cada manhã
Jornalista graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina Quem vai à videolocadora e se depara com o pôster do filme O Sol de Cada Manhã na parede, logo imagina uma nova comédia romântica sem graça de Nicolas Cage ou uma das diversas tentativas do ator de se desvencilhar do clichê de longas policiais. Entretanto, o enredo do filme de Gore Verbinski é uma crítica incisiva ao sonho americano, um tema raro em filmes hollywoodianos. Apesar de tender ao conformismo no final, ele denuncia as limitações da busca do sucesso como razão de existência. Depois de dois sucessos de bilheteria – Piratas do Caribe e a versão americana de O Chamado – o produtor arriscou num roteiro crítico, tenso e de difícil digestão. O personagem de Cage, Dave Spritz, vive sua melhor fase profissional. Homem do tempo em Chicago, ele é chamado para trabalhar em rede nacional. Por outro lado, sua vida pessoal está sem rumo. O clima depressivo com que Dave vive os acontecimentos de sua vida domina o filme. Seu casamento não existe mais: embora tente uma reaproximação, a esposa o detesta; sua filha está obesa, fuma, e é motivo de riso no colégio; seu filho participa de um programa de reabilitação e seu pai (Michael Cane) descobre que está com sérios problemas de saúde. Não bastasse isso, Dave questiona a importância de sua função profissional. Ele não é meteorologista, nem sabe qualquer tipo de análise técnica, seu papel se resume na leitura do teleprompter – razão de irritação de alguns, que lhe atiram copos de milk-shake e refrigerante e tortinhas do Mac Donald’s no meio da rua. É um filme com uma pesada carga de negativismo, mas deixa o espectador com uma estranha sensação de alívio, principalmente pelo fato de ser realista. Verbinski conseguiu um personagem principal que foge do papel de herói ou vilão, é simplesmente uma pessoa normal. O voice off, recurso utilizado no cinema para revelar ao espectador os pensamentos do