O processo
Não se sabe o que fizera, por que ou por quem teria sido denunciado. Os guardas são formais e grosseiros. Riem de sua exigência de que se identifiquem e nomeiem a autoridade a que servem. E se enfadam com o pedido de que declarem o teor da acusação. Não foram incumbidos de dizê-lo. São pagos apenas para que procurem e/ou vigiem aqueles que o tribunal aponte. Mas não perdem tempo. Enquanto Joseph K. troca a roupa de dormir, insinuam subornos e, sem cerimônia, tomam seu café.
Funcionário de um grande banco onde exercia a função de Procurador, Joseph K. mantém um tom de superioridade no trato com os subalternos, entre os quais, por certo, inclui os grosseirões dos guardas. Quando estes pois o convocam para ser interrogado pelo inspetor, no quarto ao lado, K. acredita que tudo logo se esclarecerá. O inspetor não poderia deixar de ser alguém mais próximo de sua posição na sociedade. Engana-se. O inspetor não é menos formal ou menos grosseiro que os inferiores. Tampouco sabe mais do que eles a causa da detenção. A sua é uma lógica igualmente policial; insinua ameaças, finge conselhos, preserva a rígida hierarquia - não, não faz parte dos hábitos que os interrogados se sentem (conforme P.46). K., cidadão consciente de seus direitos e deveres, insiste inutilmente em esclarecimentos sobre o motivo pelo qual estaria sendo levado a julgamento. O inspetor explica a razão de os três colegas do Banco haverem sido trazidos como testemunhas: ali estavam, diz ele, para que tornassem despercebida a chegada de Joseph K. ao Banco (P.50).
Encerra-se o primeiro capítulo e Joseph K. supõe que o acidente não afetara a normalidade do dia-a-dia. Tratar-se-ia de uma destas situações intrigantes, inexplicáveis, cuja repercussão entretanto esmaece e aos poucos se