O poder do conhecimento
O poder e as responsabilidades do conhecimento científico1
In: Carneiro F. & Emerick (Orgs.) LIMITE – A Ética e o Debate Jurídico sobre Acesso e Uso do Genoma Humano, Rio de Janeiro, FIOCRUZ, 2000.
Wim Degrave2
É preciso lembrar que qualquer opinião sobre a posição da Ciência e o seu poder e responsabilidades é fragmentária e terá, sem dúvida, uma feição pessoal. Não pretendo trazer uma visão histórica sobre o papel da Ciência na sociedade, pois esta pode ser encontrada em farta bibliografia, nem tentarei mencionar diferentes áreas da Ciência e seu impacto sobre a sociedade, pois isto traria uma abrangência enorme. Indicarei apenas alguns pontos específicos para discussão, os quais sejam talvez menos abordados nos debates científicos.
A Ciência tem como objetivo a construção de um modelo consistente, abrangente e unificado do Universo e da sua evolução, a partir de fenômenos observados ou postulados; a verificação do(s) modelo(s) a partir de simulação da "realidade"; a construção de previsões precisas sobre fenômenos futuros, e a transformação do conhecimento em progresso tecnológico e melhoria na qualidade de vida do ser humano. A Ciência vive uma situação delicada entre o ímpeto de aumentar o conhecimento, e a expectativa de transformar esse conhecimento em aplicações práticas e úteis para a sociedade. Vive sob o questionamento da sociedade quanto à legitimidade, praticidade e veracidade do conhecimento científico. Quando a Ciência pesquisa fenômenos num plano teórico, não há grande questionamento social, apenas debates e divergências com defensores de modelos alternativos. Tradicionalmente, há áreas de divergência com as visões religiosas e esotéricas da origem do Universo e da vida, e há, até hoje, questionamentos relativos a teorias que formam a base de certas práticas medicinais
"alternativas". Mas, desde os gregos, a Ciência tem se desenvolvido com crescente impacto, e hoje