O petróleo bolivariano
Cesar Augusto Araripe Lacerda (*)
“Nos próximos anos a economia venezuelana será perigosamente instável”. A ênfase que Luis Mata Mollejas, presidente da Academia Nacional de Ciências Econômicas e respeitado professor universitário, colocou nesta frase, demonstra o pensamento da elite mais intelectualizada perante o esbanjamento patrocinado pela política chavista ao longo do tempo em que está ditando as regras no país. Na década que terminou em 2010, o petróleo colocou nas mãos do governo mais de 400 bilhões de dólares e, com os recentes aumentos do preço do barril, é fácil prever que, durante longo espaço, os cofres deverão (ou deveriam) estar abarrotados de dinheiro provenientes de uma única fonte, o supremo deus extraído das profundezas do solo. Imaginar que isto não trouxe benefícios para a população seria um exercício de negação do óbvio. Estudos recentes mostram que a Venezuela é o país menos desigual da América Latina, mas, por outro lado, é preciso considerar a fragilidade dos referenciais, já que, se comparado aos níveis europeus, o primeiro lugar venezuelano ficará abaixo do último lugar do antigo continente. A Venezuela está assentada sobre um mar de petróleo. Estatísticas consistentes mostram reservas de 297 bilhões de barris, número superior ao de qualquer país produtor, incluindo os conhecidos membros da OPEP. Então por que Mollejas está preocupado? Por partes: o petróleo representa aproximadamente 95% do que a Venezuela vende para o mundo. Como a receita é alta e a tradição da monocultura já vinha percorrendo muitos governos antes de Chaves, sempre existiu pouco interesse em exportar outros produtos e, assim, ainda é menor o interesse em produzir. Planta-se pouco, fabrica-se pouco. Qualquer pessoa que entrar em um supermercado venezuelano encontrará poucos artigos colhidos ou industrializados no país, o que, traduzido em números, representa apenas 30% do que a população consome.