O mito e a sacralidade
Professor: Gustavo Naves
Curso de Historiografia Literária O Mito e sua Sacralidade
Ao discorrer sobre o mito em seu texto “O Terror das Fábulas”, Calasso inicialmente o apresenta de duas formas distintas. Uma delas é o mito como extremo, adjetivo muito usado atualmente como “algo prodigioso além do qual não se pode ir”, designação que é fruto da ilimitação imaginativa que há nesse tipo de texto. Tal ilimitação também está presente na outra forma de se compreender o mito, que o designa quanto a sua natureza duvidosa, classificando-o como mentira. Essa visão ignora a participação e relevância da mitologia na história de formação do indivíduo e, por consequência, da sociedade.
Provavelmente isso se deve ao fato de que um acontecimento ocorrido só é sabido através de um relato, o que torna relativo o limite entre o que é invenção e o que é fato. O historiador Peter Munz vai além desse fenômeno e coloca o historiador como criador de mitos, tão tênue é a linha que divide essas duas formas de conhecimento. Em uma tentativa de definir o lugar que a história ocupa nos mitos Michael Grant criou uma categoria própria para a história na mitologia, a qual ele chamou para-história. A para-história seria “não o que aconteceu, mas o que as pessoas em diferentes épocas, diziam ou acreditavam ter acontecido”; o que é tão importante para construir um saber de uma sociedade quanto a história.
Platão critica o caráter histórico do Mito na obra “República”, ao culpar Homero por “ter composto mitos falsos”. Nessa sua forma de sistematização dos mitos, Platão considera apenas a literalidade da obra e contribui com a propagação de uma visão subversiva da poesia pagã. Para Platão as metamorfoses que ocorrem nas obras de Homero atrapalhariam a paz na polis, pois delas surgem outras formas de pensar, daí a sua tentativa