O símbolo Gilgamesh – a morte e o mito
O MITO E AS SOCIEDADES ARCAICAS
Autor: Maria Isabelle Palma Gomes Corrêa
O conjunto de valores e símbolos que orienta a experiência histórica de sociedades arcaicas encontra expressão mais evidente em narrativas míticas, herdeiras da tradição oral. O estudo desses mitos possibilita uma análise sob dois pontos fundamentais: de um lado, compreende a essência dos fenômenos religiosos; por outro, decifra e apresenta o seu contexto histórico. É possível dizer que um entendimento mais abrangente de expressões míticas se faz a partir da união desses procedimentos metodológicos. Com efeito, esse trabalho busca uma análise da experiência do sagrado em sociedades tradicionais do ponto de vista histórico e cultural.
Segundo Mircea Eliade1, o mito é, por excelência a narrativa de teor mágico que melhor representa a religiosidade do homem em sociedades antigas. A partir dessa premissa, o estudo do mito começou a ser considerado tal como tinha sido durante a antigüidade: “uma história verdadeira (...) porque sagrada, exemplar e significativa”2. Numa possível definição de mito, o autor revela:
“O mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos “começos”. Noutros termos, o mito conta como, graças aos feitos dos Seres Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, quer seja a realidade total, o Cosmos, quer apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narração de uma “criação”: descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir. O mito só fala daquilo que realmente aconteceu, daquilo que se manifestou plenamente” 3 (grifos originais do autor).
Em geral, as sociedades antigas dispunham de uma quantidade significativa de mitos que, em diferentes graus, influenciavam a realidade cultural desses povos. Esses mitos, segundo Eliade, narravam uma criação, descrevendo como algo foi