O estigma da loucura Nunca vi alguém tentar ofender outra pessoa xingando-a de asmático. Não me lembro de nenhum motorista raivoso chamando o outro que parou em fila dupla - “seu hipertenso duma figa!”. Porém “ louco”, ”neurótica”, “retardado” ou mesmo, de forma mais genérica “doente mental”, é de praxe se ouvir pelas ruas ou mesmo em rodas de amigos. Desconheço qualquer comentário de vizinhos ou conhecidos, falando do câncer de alguém próximo, ou do derrame que um parente sofreu que não seja em tom de respeito. Já se o coitado for portador de algum transtorno mental, pode esperar os comentários mais infames e degradantes, mesmo dos mais chegados. Doentes mentais são apontados nas ruas, e provocados das mais diversas formas. Os mais ingênuos até hoje sofrem nas mãos de pessoas inescrupulosas que, apenas para se divertir, os colocam em situações humilhantes, ou os incentivam a beber. Em pleno século XXI vemos doentes mentais sendo evitados como os antigos leprosos e tuberculosos. O imenso sofrimento psíquico que o transtorno mental causa deveria levar as pessoas a ter compaixão pelos doentes, mas não é isso que acontece. Talvez parte da explicação para esse fenômeno esteja no difundido conceito de que o transtorno mental é algo psicológico, ou seja, uma doença do pensamento. E que dessa forma, ela seria uma manifestação de fraqueza de caráter, espírito ruim, má criação, frescura ou preguiça; ou seja, o doente teria certa “culpa” pela sua doença. Nada mais absurdo. Está comprovado que doenças como esquizofrenia, depressão, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) ou transtorno do pânico dependem de alterações dos níveis de algumas substâncias dentro do cérebro, assim como o diabetes depende de alterações dos níveis de insulina no sangue ou a gastrite depende de alterações nos níveis de ácido no estômago. Os transtornos mentais devem ser encarados como uma fatalidade para o seu portador, pois ninguém decide ser depressivo, assim como