O dominio da norma culta é um instrumento de ascensão social
É muito comum encontrar pessoas muito bem-intencionadas que dizem que a norma padrão conservadora, tradicional, literária, clássica é que tem de ser mesmo ensinada nas escolas porque ela é um “instrumento de ascensão social”. [...] Se o domínio da norma culta fosse realmente um instrumento de ascensão na sociedade, os professores de português ocupariam o topo da pirâmide social, econômica e política do pais, não e mesmo? Afinal, supostamente, ninguém melhor do que eles domina a norma culta. [...] [BAGNO, Marcos; Preconceito Linguístico – o que é, como se faz; 49º edição; São Paulo: Editora Loyola; 2007; p.69]
O que estou tentando dizer é que o domínio da norma culta de nada vai adiantar a uma pessoa que não tenha todos os dentes, que não tenha casa decente para morar, agua encanada, luz elétrica e rede de esgoto. [...] O domínio da norma culta de nada vai adiantar a uma pessoa que não tenha seus direitos de cidadão reconhecidos plenamente. [...]
Achar que basta ensinar a norma culta a uma criança pobre para que ela “suba na vida” é o mesmo que achar que é preciso aumentar o número de policiais na rua e de vagas nas penitenciarias para resolver o problema da violência urbana. [...]
É preciso garantir, sim, a todos os brasileiros o reconhecimento (sem o tradicional julgamento de valor) da variação linguística. [...] É preciso favorecer esse reconhecimento, mas também garantir o acesso à educação em seu sentido mais amplo, aos bens culturais, a saúde e a habitação, ao transporte de boa qualidade, a vida digna de cidadão merecedor de todo respeito. [BAGNO, Marcos; Preconceito Linguístico – o que é, como se faz; 49º edição; São Paulo: Editora Loyola; 2007; p.70-71]
O que está em jogo é a transformação da sociedade como um todo, pois enquanto vivermos numa estrutura social cuja existência mesma exige desigualdades sociais profundas, toda tentativa de promover a “ascensão” social dos