O desejo em Freud
O desejo que Freud nomeia é enigmático, e se diferencia da necessidade, que pode se satisfazer num objeto adequado. Como é sabido, o desejo é de outro registro para a psicanálise. Ele aparece mascarado nos sintomas, sonhos e fantasias, que são signos de percepção pelos quais uma experiência de prazer ou desprazer tem sido memorizada no aparelho psíquico sob a forma de traços mnémicos. Quando se procura o objeto na realidade, a procura é a partir desses traços, objeto que remete a algo perdido desde o início, mas que deixa uma inscrição. Isto determina a dimensão do impossível para a psicanálise; um impossível lógico.
Podemos entender assim a definição que Freud dá na Interpretação dos Sonhos: "desejo é o impulso de recuperar a perda da primeira experiência de satisfação". Esta primeira experiência de satisfação é de ordem mítica, indicando esse lugar de perda como fundamento, ou como causa, da fala no homem, marcando assim a relação de este ser vivo homem, com a estrutura da linguagem. O desejo comporta um lugar de perda que determina um campo de tensão. Nesse sentido não é adaptativo, não é simplesmente homeostático e por isso não corresponde só ao principio do prazer. Seu correlato é uma ruptura desse principio que se chama na psicanálise, pulsão. Freud a nomeia pulsão de morte, como além do principio do prazer. Isto é diferente da morte biológica. Desejo e pulsão são as duas vertentes do sujeito que determinam a sua realidade psíquica como diferente da homeostase orgânica. Produz-se uma fragmentação que, paradoxalmente, sustenta a função da vida. "A vida é o conjunto de forças onde se significa a morte, que será, para a vida, o seu carril" (Sigmund