O conhecimento
NÃ O
P RECIS A
Por André Cauduro D’Angelo
Autor de “Precisar, não Precisa – um olhar sobre o consumo de luxo no Brasil” (ed. Lazuli/Cia. Editora Nacional). www.precisarnaoprecisa.com.br livro@precisarnaoprecisa.com.br
Autenticamente falsos
O conflito entre originalidade e cópia, na arte e no luxo
Não se pode dizer que o holandês Han van Meegeren (1889–1947) fosse um sujeito sem talento. Pelo contrário. Dedicado à pintura desde cedo, chegou a receber uma importante premiação logo no início de carreira, que se ensaiava promissora. No entanto, sorte e circunstâncias impediram que van Meegeren triunfasse com criações próprias, levando-o a se dedicar a uma tarefa menos nobre, embora tão trabalhosa e tão tecnicamente exigente quanto aquelas: a falsificação. Uma falsificação peculiar, diga-se de passagem: voltada a apenas um artista (Johannes Vermeer, também holandês, que viveu entre 1632 e 1675) e apoiada não em reproduções de quadros conhecidos do conterrâneo, e sim em pinturas novas, nas quais imitava o estilo e a temática de Vermeer. Produziu, assim, ao longo da carreira, diversos falsos Vermeers, nos quais exibia uma técnica que em nada ficava a dever à do artista original, enganando críticos e marchands durante anos.
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Mais do que uma história curiosa, a trajetória de van Meegeren, contada por Frank Wynne em “Eu fui Vermeer” (Cia. das Letras), é um estímulo a reflexões sobre a importância da autoria no território das artes. Ao entrevistar um falsário contemporâneo, Wynne obteve dele uma declaração para lá de provocativa: “Ninguém compra um quadro porque acha bonito; compra pela assinatura, compra para ter um Warhol na parede” Por mais que a frase soe como despeito
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de quem entrou no mundo da pintura pela porta dos fundos, não deixa de soar verdadeira. No fim das contas, o que vale em qualquer quadro, escultura ou instalação é a autoria, e não o seu valor intrínseco – cuja existência, aliás, é