O CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO E O SURGIMENTO DO CONCEITO DE TRANSFERÊNCIA
E O SURGIMENTO DO CONCEITO DE TRANSFERÊNCIA
Aula passada, estudamos as condições históricas para o surgimento da psicanálise. Verificamos que a psicanálise só pôde surgir a partir do advento da Modernidade e destacamos, desta Era, as idéias de interpretação e representação, encontradas na obra de Freud. No entanto, também verificamos que Freud vai além da Modernidade com os conceitos de pulsão e inconsciente. O primeiro por não permitir mais a separação cartesiana entre corpo e mente, e o segundo, por supor a existência de algo para além da consciência, consciência esta enaltecida pelos pensadores modernos. Abordaremos agora um pouco melhor a idéia de interpretação, começando com a “Interpretação dos sonhos” (1900). Neste texto de 1900, Freud afirma que a interpretação dos sonhos é o paradigma da interpretação em análise. Isso significa que a interpretação feita no setting analítico se faz exatamente da mesma forma que quando se interpreta um sonho. Desta forma, assim como nos sonhos, frente à fala do paciente em análise, precisamos supor um sentido oculto, há algo para além do dito. É isso que está para além do dito que precisa ser interpretado, interpretação aqui colocada como clarificação, entendimento. Da mesma forma que o sonho quem interpreta é o próprio sonhador, a fala livre da análise deve ser interpretada pelo analisando, através das suas associações. Portanto, a própria associação de idéias feita pelo paciente já é, ela mesma, a forma pela qual a interpretação se dá. E se pensarmos que a associação livre é a regra fundamental da psicanálise, podemos entender que a análise é um processo interpretativo. Quando falamos de interpretação como clarificação, é sempre bom lembrar que Freud, relativos aos sonhos, nos fala do umbigo do sonho, um ponto onde o sonho toca no desconhecido. Frente a este desconhecido, as associações cessam, e não é mais possível interpretar ou compreender.
Isso não acontece somente