O caso Van Meegeren
Afinal, gostamos de arte ou de artistas? Pode parecer uma questão meio bizantina, mas tem lá sua importância, na medida em que ela se dá num ponto em que as coisas ficam um tanto confusas nas nossas cabeças.
Alguém pode dizer que ama Monet, outro que é fissurado por Pollock, um terceiro que gosta mesmo é de Duchamp. Mas, e se não soubéssemos da autoria das obras desses artistas? Apreciaríamos do mesmo modo? Diríamos que não importa? E se soubéssemos que um quadro que admiramos é falso, que não foi aquele determinado artista que consideramos genial que o pintou, mas um outro fulano que nem mesmo sabemos quem é? Não vamos fingir que a resposta é “sim, eu continuaria gostando do mesmo modo” porque não é.
Basta lembrar o caso de Han Van Meegeren, o mais célebre dos falsários.
Van Meegeren era um negociante de arte holandês que, ao final da Segunda Guerra Mundial, foi acusado de colaborar com os nazistas, ao vender um quadro de Vermeer para ninguém menos que Hermann Goering, o segundo homem do Reich. Se fosse condenado, poderia encarar a pena de morte. Foi por esse motivo que Van Meegeren abriu o bico e revelou que ele mesmo havia pintado aquele quadro e mais algumas “legítimas” pinturas de Vermeer. O caso de traição virou escândalo internacional.
Van Meegeren era, naturalmente, pintor, e sua obra era considerada pelos especialistas da época como medíocre e antiquada. Num dado momento, por uma série de motivos (o interesse do mercado europeu pelas obras de Vermeer, o pequeno número de telas existentes e sua biografia repleta de lacunas), dos quais não se deve excluir o desejo de se vingar dos críticos de arte que acabaram com sua carreira, Van Meegeren decidiu forjar seus próprios Vermeers, além de alguns Frans Halls e outros pintores holandeses do século XVII. Mas seu interesse era mesmo Vermeer.
Estudou sua técnica, aprendeu a fazer as