O Bode Expiatório
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O BODE EXPIATÓRIO
E DEUS
René GIRARD
Tradutor:
Márcio Meruje
www.lusosofia.net
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Covilhã, 2008
F ICHA T ÉCNICA
Título: O Bode Expiatório e Deus
Autor: René Girard
Tradutor: Márcio Meruje
Colecção: Textos Clássicos de Filosofia
Direcção: José M. S. Rosa & Artur Morão
Design da Capa: António Rodrigues Tomé
Composição & Paginação: José M. S. Rosa
Universidade da Beira Interior
Covilhã, 2009
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O Bode Expiatório e Deus∗
René Girard
“Deus é uma invenção?” é uma pergunta a que respondo de imediato: “Não”.
Entre as diversas concepções de Deus nas sociedades arcaicas, por mais numerosas que elas sejam, existem demasiadas semelhanças para que a hipótese de uma “invenção” possa ter a menor hipótese de ser verdadeira.
Deus é, primeiro, a personalização do que se chama o sagrado.
E o sagrado é uma experiência da violência de tal modo repentina, temível e constrangedora no interior das comunidades que os homens acreditam e reconhecem nela um poder que os ultrapassa, um poder literalmente transcendente, perante têm demasiado medo para que possa desobedecer-lhe, a fortiori para negar a sua existência.
Deus é esta experiência personalizada, repito-o. Os deuses arcaicos não são o verdadeiro Deus, evidentemente; esses deuses também não são invenções gratuitas, mas interpretações inexactas, ainda que necessárias, de violências sociais, interpretações sem as quais, na minha opinião, nunca teria havido humanidade. São elas, com efeito, que durante muito tempo mantiveram em respeito a violência que nos ameaça, a violência que nós próprios produzimos.
Destas interpretações de Deus, creio eu, podemos dizer legitimamente que são inseparáveis do verdadeiro Deus, do Deus que não
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In G IRARD, R., G OUNELLE, A., H OUZIAUX, A., Dieu, une invention?, Les
Editions de L’Atelier,