A violência e o sagrado em René Girard
O texto está dividido em duas partes. A primeira apresenta um resumo do sistema antropológico-fenomenológico girardiano sobre violência e sagrado. A Segunda apresenta suas reflexões sobre a especificidade da tradição judaico cristã na articulação da violência.
Embora não sendo exatamente uma resenha, a base do texto é o livro A violência e a religião.
São Paulo : Paz e Terra, 1990. No entanto, o texto faz referência indireta a outras obras de
Girardi, usando como fonte um primoroso trabalho de Alfredo Teixeira: Violência e cultura: explorações do teorema girardiano. In: FARIAS, José Jacinto Ferreira et. al. Religião e violência: extremismos religiosos, violência e cultura, guerra santa, opinião de teólogos. Lisboa : Paulus, 2002.
p. 37-91.
Palavras-chave:
violência e sagrado, religião, bode expiatório, René Girard
O sistema girardiano
René Girard constrói um sistema antropológico-fenomenológico para explicar a origem da cultura e a estrutura de violência nas sociedades. Sua tese é que a articulação dos diversos fenômenos sociais opera através da íntima relação do sagrado com a violência. O sagrado é a ferramenta reguladora da qual as sociedades lançam mão diante da ameaça de violência generalizada. Este processo é a própria fundação da cultura. O âmbito do sagrado está pleno de violência, e a violência é sempre sacralizada.
No cerne de sua tese está o processo de passagem da indiferenciação para a diferenciação social, instituinte da cultura. A indiferenciação gera a rivalidade generalizada, que ameaça o grupo social. Diante da ameaça, o grupo cria mecanismos coletivos de diferenciação. A primeira solução diante da crise é o sacrifício vitimizador, que polariza em uma única vítima a violência que envolve todas as rivalidades conflitantes que ameaçam o grupo. Ela será sacrificada em nome do grupo. Esta vítima fundadora ou bode expiatório é o cerne da diferenciação primeira das sociedades: a comunidade de um lado; a vítima do