O ARTISTA E SUA IMAGEM
Existe uma relação entre uma teoria estética e a imagem do artista de tal forma que podemos dizer que toda estética engendra uma imagem de artista e toda imagem de artista está fundamentada em alguma estética. Podemos observar nas discussões acadêmicas acerca da estética e filosofia uma crescente preocupação com o conceito de gênio. Existem numerosos estudos sobre a questão focando principalmente em sua primeira fase de desenvolvimento na Inglaterra e em sua fase final de ápice e ruptura no Idealismo Alemão. Entretanto, em sua fase intermediária, representada pelo Iluminismo francês o conceito de gênio não tem tido a mesma intensidade nas pesquisas. Certamente que o conceito de “genius” atingiu seu clímax no Genielehre germânico com a filosofia estética de Hamann, Herder, Lessing e Goethe. Suas origens germânicas podem ser claramente localizadas em Kant. Entretanto, para compreender corretamente esse momento do conceito, se faz necessário compreendê-lo em seu desenvolvimento francês, o qual representa uma fase intermediária entre as origens inglesas e o clímax germânico.
No século XVIII francês, o conceito de “genius” não designava uma virtude mística ou desconhecida que se incorporava em um homem ou artista. Na verdade, ela designava o próprio homem, ou a virtude maior de um homem civilizado. Podemos compreender esta questão ao constatar a presença de duas formas de se dizer e entender o conceito de gênio. Em francês existem duas expressões que, ao serem empregadas corretamente, revelam duas concepções diferentes de “genius”: “possuir o gênio” (avoir du génie) e “ser um gênio” ou um homem de gênio (être um génie – um homme de génie). O termo “possuir o gênio” significava no século XVIII francês possuir grande talento. Assim, não existia uma diferença significativa entre talento e gênio. Voltaire no artigo “Génie” em seu “Dicionário Filosófico” (Dictionnaire pilosophique) escreve: “Mas no