O artifícios da comicidade de Quanto Mais Quente Melhor, a partir de conceitos de Henri Bergson
PROF. LUCIANA CANTON
ANÁLISE – Quanto Mais Quente Melhor , a partir dos conceitos de Henri Bergson.
Este texto tem por objetivo analisar a construção cômica cinematográfica de Quanto Mais Quente Melhor (1959, Billy Wilder) a partir, especificamente, da cena Damn. Nesta cena, Jerry (personagem travestida em Dafne) está deitado na cama, embriagado, ainda com maracás de mambo nas mãos e revela a seu parceiro Joe que recebeu nesta noite um pedido de casamento de um milionário. Neste texto, é pretendido aplicar os conceitos de Bergson de modo a revelar quais artifícios são utilizados, nesta cena, para haver comicidade.
O livro: O Riso, de Henri Bergson , descreve, logo em seu primeiro parágrafo, a comicidade como algo essencialmente humano, sendo o homem “o único animal que ri”, e constrói ao longo do livro uma relação entre a humanidade e o papel do riso. Para tanto suas primeiras páginas relacionam a comédia aos brinquedos da infância e descreve alguns deles como artifícios básicos de produção do riso e afirma: “A comédia é um brinquedo. Brinquedo que imita a vida. (...) Quase sempre ignoramos o que há de infantil nos sentimentos alegres” (BERGSON, Henri)
O primeiro brinquedo citado na comparação é o boneco de mola, cujo mecanismo seria transformado num confronto de “um sentimento comprimido que se distende como uma mola, e uma ideia que se diverte em comprimir de novo o sentimento.”(BERGSON, Henri). A presença deste artifício está presente na cena escolhida e é evidente na insistência de Jerry em se casar com um milionário, convertido num “mecanismo de repetição montado pela ideia fixa” (BERGSON, Henri). Bergson argumenta: Imaginemos agora uma espécie de mola moral: certa ideia que se exprima e se reprima, uma vez mais se reprima, certo fluxo de falas que se arremesse, que se detenha e recomece sempre.”