INFÂNCIA E LITERATURA INFANTIL
Nesse texto, nosso objetivo é discutir a infância como uma construção social e histórica e, também, mostrar a relação entre essa “invenção da infância” e a criação de uma literatura para crianças.
Foi a partir, principalmente, do estudo empreendido por Philippe Ariès1 – História social da infância e da família – que a infância passou a ser compreendida como uma construção histórica e cultural e não mais como uma simples fase natural, universal e homogênea. Ou seja: cada sociedade, em cada tempo histórico atribui determinados significados à fase inicial da vida humana. Nesse sentido, não se está negando que todas as pessoas passem por essa etapa, nem dizendo que existam adultos que não foram “crianças”; o que está sendo dito é que ser criança em Uruguaiana, por exemplo, é diferente de ser criança em Angola2 nos dias de hoje, ou, mesmo, ser criança hoje em Uruguaiana e no final do século XIX são experiências muito diferentes. Além disso, ser uma criança de classe média e de classes populares hoje pode representar vivências, hábitos, valores muito diferentes.
Segundo esse autor, Áries, na Idade Média a infância era muito reduzida, ou seja, logo que a criança adquirisse uma certa independência dos adultos, como, por exemplo, conseguir andar, falar e comer sozinha, era introduzida no mundo adulto e passava a circular em todos os ambientes destes (como, por exemplo, nas tavernas). A arte medieval demonstrava essa indiferenciação entre adultos e crianças, ao representar as crianças com os mesmos traços e roupas dos adultos, sendo apenas diferentes em relação ao tamanho.
A partir do século XVI, inicia-se um processo de constituição da infância. A escolarização separa as turmas de crianças dos adultos. Ocorre uma moralização dos jogos, danças, linguagem, comportamentos, festas e hábitos, além de se iniciar uma vigilância constante sobre a sexualidade das crianças.
A partir de então são disseminados discursos sobre a essência inocente