Entre a história e a memória
A articulação entre esses dois processos possibilita a formação de representações e valores pelos alunos e a produção de sentidos e significados
Por Ana Maria Monteiro
Se falamos da sala de aula, a relação entre história vivida e história conhecimento é ainda pouco problematizada. Parece que ainda nos encontramos no tempo em que as duas noções não eram percebidas como processos diferentes. Em decorrência disso, é comum ouvirmos a concepção de que a história ensinada é a história vivenciada.
A confusão se aprofunda quando se afirma, de forma bastante genérica, que “basta saber história para ensinar história”. Mas que “história” é essa que se “sabe” ao ensinar?
Para ensinar história, realizamos dois processos fundamentais: uma seleção cultural – definindo entre os vários saberes disponíveis na sociedade, o que implica opções culturais, políticas e éticas, possibilitando ênfases, destaques, omissões e negações. Essa seleção é enraizada socialmente e histórica, revelando interesses, projetos identitários e de legitimação de poderes instituídos ou a instituir, além de suscetível a redefinições. Ela se realiza e expressa nas propostas e nas práticas curriculares. A didatização é o outro processo e possibilita que os saberes selecionados sejam passíveis de serem ensinados.
A articulação dos dois processos possibilita a formação de representações e de valores pelos alunos, a produção de sentidos e a atribuição de significados a partir das situações de aprendizagem vivenciadas. Dessa maneira, o ensino de história contribui de forma importante para a construção e reconstrução do conhecimento cotidiano, utilizado por todos nós para a vida comum, e no qual operamos com a “memória” – construção individual realizada a partir de referências culturais coletivas.
Os professores enfrentam uma contradição que muitos não consideramos quando ensinamos e que atua de forma expressiva nos processos de aprendizagem. A proposição de