A verdade e seus objetos - Por Luis Carlos Bresser Pereira
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Versão de 4 de março de 2008. A primeira versão deste trabalho, destinada a meus alunos de
Metodologia Científica para Economistas
(EESP/FGV), foi escrita em janeiro de 2004.
Eu sei que existe a verdade em oposição à falsidade, que ela pode ser alcançada se as pessoas desejarem, que vale a pena buscá-la, e que não é apenas a mais valiosa, mas a mais aprazível das coisas no mundo. (Locke, Correspondência VI)
Abstract. Theories on truth can be realist or relativist. Realist theories, like neopositivism, falsificacionism, and coerentism, assume the separation of the observer from the facts, and assert that it is possible to find words that make thoughts conform to facts. Relativist or epistemic theories, like pragmatism, the rhetoric theory, and the ideological theory of truth, doubt that this is possible, and look for more modest criteria to assert the truthfulness of a statement or a theory like its usefulness, the consensus achieved on it, or its persuasiveness. The author rejects these theories arguing that if, when the facts to be studied are simple, truth is achievable, this means that this will be also theoretically possible when they are complex. Yet, scientist should not be arrogant, and he asks for a modest theory of truth, particularly in the case of the social sciences, which deal with facts extremely complex and continuously changing.
A discussão sobre a verdade é tema central dos filósofos desde os gregos. Com o racionalismo moderno a verdade tornou-se alcançável pela razão cartesiana. No século dezoito, a partir de Kant, a filosofia, confrontando-se com a competição implícita no extraordinário avanço das ciências, passou a considerar como seu campo específico não mais o conhecimento do ser, a ontologia, mas a epistemologia – o estudo crítico do conhecimento.
E reservou-se também a filosofia política e a filosofia social – campos em que ciência empírica tinha menos recursos