A universidade pública sob nova perspectiva
Marilena Chaui
I.
A universidade é uma instituição social. Exprime o funcionamento da sociedade. No entanto, pode se relacionar com o Estado e com a sociedade de maneira conflituosa, dividindo-se internamente em opiniões. A legitimidade da universidade moderna fundou-se na conquista da ideia da autonomia do saber em face da religião e do Estado. Revoluções sociais posicionam a educação e a cultura como constituidoras da cidadania. Após a Revolução Francesa, concebe-se como instituição republicana, portanto, pública e laica. Democracia como ideia reguladora. Por outro lado, a contradição entre o ideal democrático de igualdade e realidade social da divisão e luta de classes leva a universidade a se posicionar diante do ideal socialista. Universidade: instituição social de cunho republicano e democrático. Sua autonomia só é possível em um Estado semelhante.
A reforma do Estado realizada no último governo da República posicionou a educação no setor de serviços não exclusivos do Estado. Isso significou que a educação deixou de ser concebida como um direito para ser concebida como um serviço, passível de privatização. Reposicionou a universidade como uma organização social e não como instituição social.
Universidade como organização: balizada pela ideia de eficácia e sucesso no emprego de meios; gestão, planejamento, êxito. Não lhe compete discutir ou questionar sua própria existência ou seu lugar na luta de classes. Tem apenas a si mesma como referência.
Universidade operacional: regida por contratos, avaliada por índices de produtividade, calculada para ser flexível. Organizada em estruturas que ocupam seus docentes e curvam seus estudantes a exigências exteriores ao trabalho intelectual. Aumento de horas/aula, diminuição de tempo para mestrado e doutorado, avaliação pela quantidade de produção formal. Docência entendida como transmissão rápida de conhecimentos. Professor contratado por ser um pesquisador promissor e