A transição para a humanidade - Clifford Geertz
Clifford Geertz
Geertz (1980) inicia o texto com uma problemática encontrada em vários campos do saber: a relação entre os homens e os animais. Ele afirma que esta é constantemente discutida nas ciências humanas, envolvendo um debate bastante complexo quanto ao seu grau. Existem duas vertentes de pensamento, a que segue um raciocínio biológico de evolução, estudando o homem “apenas como uma das mais interessantes formas em que a vida se manifesta” (Geertz, 1980, 31), e a que possui um âmbito mais social, que considera o homem como ser diferente, único em vários sentidos, possuidor de cultura. A antropologia procura conciliar estas duas vertentes, tanto estudando a história do homem e sua evolução física, quanto sua cultura e sociedade.
A medida que se estuda melhor a origem e evolução dos seres humanos, encontra-se um problema crucial: a origem da cultura. Até a metade do século retrasado acreditava-se na teoria do “ponto crítico” (Alfred Kroeber), que defende o ínicio da cultura como algo que surgiu de forma repentina, uma alteração genética que fez com que o homem pudesse, como cita Geertz, “comunicar aprender, ensinar, generalizar a partir de uma ínfema cadeia d sentimentos e atitudes diferentes” (Kroeber). Tal pensamento era apoiado por três motivos: o enorme espaço entre as habilidades mentais do homo sapiens e de seus parentes mais próximos, o progresso que era visto como um salto, ao invés de uma continuação, e o problema da “unidade psíquica da humanidade”, pois defender uma diferença histórica entre diferentes “tipos” de homens seria considerado defender a teoria de raças (Geertz, 1980).
Paleontologia humana, estudo dos homens através de fosséis, acabou por desconstituir a teoría do “ponto crítico” com suas descobertas, como o australopithecus, “meios-homens” que possuiam algumas habilidades consideradas culturais, como caça periódica e construção de ferramentas, apesar de possuírem um cérebro menor do que o dos grandes