A superexploração do trabalho em economias periféricas e dependentes
Andréa Lisly Gonçalves1 Universidade Federal de Ouro Preto (Professora Adjunta) Resumo: Nem sempre é possível avaliar, com o devido rigor, a origem das técnicas utilizadas na extração do ouro em Minas Gerais no século XVIII. A discussão não é recente, ainda que venha ganhando alento com o avanço dos estudos, não apenas sobre a História da África e a origem étnica dos escravos presentes nas minas, desde os períodos iniciais das atividades extrativas, mas também das repercussões dos sucessos dos espanhóis na mineração da prata na Nova Espanha e no Peru. O objetivo deste trabalho é o de procurar dimensionar, a partir da bibliografia existente sobre a história da mineração no continente africano e na ibero América, de fontes oficiais, disponíveis em suporte digitalizados, como as do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa e fontes impressas, a participação dos africanos escravizados, dos peritos europeus e do Novo Mundo na introdução de técnicas de extração do ouro na capitania de Minas Gerais. Palavras-chave: escravidão, técnicas de mineração, capitania de Minas Gerais, século XVIII. “Somente os joalheiros sabem distinguir os diamantes da Ásia dos do Brasil. As pedras de Golconda e de Visapur se caracterizam por uma alvura, por uma nitidez de brilho que não possuem as outras, cuja água encerra um tom amarelado que, por ocasião da venda, em igualdade de peso, as deprecia”. Honoré de Balzac. O contrato de casamento. A comédia Humana. Rio de Janeiro: Globo, 1989, v. IV. p.446. I. Introdução Em mais de uma passagem de A Comédia Humana, Balzac refere-se à inferioridade das gemas brasileiras em relação àquelas extraídas na Ásia. Pelo trecho citado, parece tratar-se de uma sutil diferença, só perceptível ao olhar experimentado dos joalheiros, mas suficiente, pelo menos na ficção, para depreciar o valor de mercado de nossas pedras2. A experiência com mineração fez parte da