A segunda geração dos Annales (A era de Braudel)
I – O Mediterrâneo
Quando da criação dos Annales, em 1929, Braudel tinha vinte e sete anos. Estudara História na Sorbonne, lecionava história numa escola da Argélia e trabalhava em sua tese. Tese que se iniciara como um ensaio de história diplomática, de caráter bastante convencional, embora ambiciosa. Foi projetada originalmente como um estudo sobre Felipe II e o Mediterrâneo, em outras palavras, uma análise da política externa do soberano.
Seu primeiro artigo importante, publicado nesse período, tinha por tema a presença dos espanhóis no Norte da África, no século XVI. Esse estudo, cujas dimensões são a de um pequeno livro, merece ser resgatado de seu imerecido esquecimento. Era, ao mesmo tempo, uma crítica a seus predecessores no tema pela ênfase que haviam atribuído aos grandes homens e às batalhas; uma discussão sobre a “vida diária” das guarnições espanholas; e também uma demonstração da estreita relação, embora invertida, entre a história africana e européia, isto é, quando estourava a guerra na Europa as campanhas africanas eram suspensas, e vice-versa .
A pesquisa foi interrompida quando Braudel foi contratado para lecionar na Universidade de São Paulo, 1935-1937, período definido por ele, mais tarde, como o mais feliz de sua vida. Foi no retorno de sua viagem ao Brasil que Braudel conheceu Lucien Febvre, que o adotou como um filho intelectual e persuadiu-o – se é que ainda necessitava de persuasão – de que o título da tese deveria ser realmente “O Mediterrâneo e Felipe ll”, e não “Felipe II e o Mediterrâneo” .
Com o advento da Segunda Guerra Mundial, Braudel teve, por mais irônico que possa parecer, a oportunidade de escrever sua tese. Permaneceu quase todos os anos de guerra como prisioneiro num campo perto de Lübeck. Sua prodigiosa memória compensou em parte a impossibilidade de recorrer às bibliotecas, tendo rascunhado O Mediterrâneo em cadernos escolares comuns e os remetia a Febvre, para lhe serem devolvidos ao final da