A riqueza das naçoes
Adam Smith
A divisão do trabalho
O maior aprimoramento das forças produtivas do trabalho e a maior parte da habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho é em toda parte dirigido ou executado parecem ter sido resultados da divisão do trabalho.
A divisão do trabalho multiplica as produções de todos os diversos ofícios e gera, em uma sociedade bem dirigida, a riqueza universal que se estende até às camadas mais baixas do povo. Cada trabalhador tem para vender uma grande quantidade do seu próprio trabalho, além daquela de que ele mesmo necessita. Fornece-lhes em abundância aquilo de que carecem, e estes, por sua vez, com a mesma abundância, lhe fornecem aquilo de que necessita; assim é que em todas as camadas da sociedade se difunde uma abundância geral de bens.
O princípio que dá origem à divisão do trabalho
Essa divisão do trabalho, da qual derivam tantas vantagens, não é, em sua origem, o efeito de uma sabedoria humana qualquer, que preveria e visaria essa riqueza geral à qual dá origem. Ela é a conseqüência necessária, embora muito lenta e gra-dual, de certa tendência ou pro¬pen¬são existente na natureza humana que não tem em vista essa utilidade extensa: a propensão a trocar uma coisa pela outra.
Assim como é por negociação, por troca ou por compra que consegui¬mos uns dos outros a maior parte dos serviços recíprocos de que necessi¬tamos, da mesma forma é essa mesma tendência a trocar que originaria¬mente gera a divisão do trabalho. A diferença entre as personalidades mais dife¬rentes, entre um filósofo e um carre-gador comum da rua, por exemplo, parece não provir tanto da natureza, mas antes do hábito, do costume, da edu¬cação ou formação. É a certeza de poder permutar toda a parte exce¬dente da produção de seu pró¬prio trabalho, que ultrapasse seu consumo pessoal, que estimula cada pessoa a dedicar-se a uma ocupação especí-fica e a cultivar e aperfeiçoar todo e qual¬quer talento ou inclinação que possa ter por aquele