A representação imagética da criança nos vários processos
Kátia Maria Roberto de Oliveira Kodama1
Este trabalho propõe uma análise da representação imagética da criança e sua relação com conteúdo de ordem ideológica. Optou-se por uma apreciação da imagem infantil abarcando os períodos da Idade Média, do Renascimento, do Barroco, do Academicismo e do Realismo, para compreender o uso na contemporaneidade da imagética da criança como produto, descaracterizando-a, sem respeitar sua diversidade cultural. O objetivo é mostrar que, concomitantemente com um processo de transformação social, a saber - o de transição entre sociedade feudal, teocrática, rumo ao então emergente modo de divisão de classes moderno, burguês - a iconografia da criança recebeu tratamentos diferenciados, decorrentes do “espírito de época”, para fazer uso de uma expressão hegeliana. A partir de um contato com inúmeras estampas, dá-se conta da inexistência da representação infantil na arte medieval. Os temas – todos alegóricos e retratando o universo religioso, soberano da sociedade medieval – contam com actantes adultos apenas, inclusive no que diz respeito ao anjo e ao Menino - especial atenção dada a este, cuja representação se faz por um curioso tratamento: um adulto em miniatura encontrase no colo da Virgem, e não propriamente uma criança.
La Madonna in Maestà (Obra da Catedral, Sena)
Frontal de Santa Maria de Avia Museu de Arte da Catalunha, Barcelona
Referenciais historiográficos se fazem necessários para esclarecer o desconforto frente a tal constatação. De fato, durante o período da Idade Média não havia o sentimento em torno da infância do modo como concebemos hoje. Por “sentimento” referimo-nos ao conjunto de preocupações físicas, emocionais, sexuais e de conhecimento formal que hoje é dispensado à criança, um complexo de valores que se efetiva nos séculos XIX e XX. O processo de formação – lentíssimo, por