A razão populista - Ernesto Laclau
Vivemos uma época de “cruzada antipopulista”, como enuncia a tese de Laclau na introdução de sua obra “A Razão Populista”. Embasados na crença de que tal conceito se trata de uma ameaça autoritária e ideológica aos preceitos constitucionais e às liberdades públicas e, de um conceito vago e vazio em termos de consistência teórica, é empunhada uma ofensiva tão ideológica quanto às acusações feitas. O objetivo desse trabalho é denunciar tal empreitada e mais do que isso, refletir acerca dos pressupostos intelectuais que rodeiam esse conceito político para que ele possa ser compreendido enquanto expressão que se repetiu e reinventou em diversos cenários da história e que não se baseia necessariamente em retórica pura e ideológica.
A obra tem por objetivo enunciar uma série de argumentos, para tornar o entendimento do populismo enquanto uma forma de construção do político mais claro e desmistificar, através de uma breve revisão da literatura no capítulo I, as ambiguidades e paradoxos que cercam as tentativas de conceituação do populismo. O objetivo da análise a seguir é ampliar o modelo ou a racionalidade em termos de uma retórica generalizada, de tal modo que o populismo surja como uma possibilidade distintiva e sempre presente da vida política e não como é posto constantemente, como anormalidade ou desvio da conformação política. O autor alerta, logo na introdução, para algumas observações importantes:
1. As instituições não são entidades neutras; a rigor, elas são exatamente o contrário. Representam a cristalização de forças entre os grupos, uma situação de equilíbrio temporário. Quando um projeto de transformação social profunda começa a se concretizar, a ordem institucional vigente entrará em choque e terá de ser modificada. Portanto, o ideal teórico institucionalista não se sustentaria, uma vez que não teria de uma mobilização maciça de base assim como o populismo extremo,