conservação
Jorge Ferreira
(Do livro “O populismo e sua história: debate e crítica”, organização Jorge Ferreira,
Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, ano 2010, p. 61-124)
"Não há povo amorfo. Não há massa bruta e indiferente. A massa é formada de homens e a natureza de todos os homens é a mesma: dela é a paixão, a gratidão, a cólera, o instinto de luta e o instinto de defesa."
Rachel de Queiroz
Herdeiro do "clientelismo" da Primeira República, o "populismo", após 1930, teria dado continuidade a uma relação desigual entre Estado e sociedade e, em particular, entre Estado e classe trabalhadora. Sobretudo com a ditadura de Getúlio Vargas, os trabalhadores, com a violência policial, teriam perdido suas lideranças mais combativas e, com a eficácia da máquina do DIP, sido iludidos pela propaganda política estatal. Destituídos de tradições de luta, organização e consciência, os trabalhadores, fossem os mais "antigos", fossem os mais "novos", aqueles recém-chegados do mundo rural, sucumbiram aos agrados do ditador. Satisfeitos com alguns benefícios materiais, a legislação social em particular, eles, em troca, dedicaram a Vargas submissão e obediência política.
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Cooptados, manipulados, iludidos e amedrontados com as perseguições da Polícia Especial, os assalariados, após 1945, não teriam conseguido livrar-se das amarras ideológicas tecidas na época anterior: cerceados em suas lutas pela manutenção da legislação corporativista e a tutela estatal dos sindicatos, traídos com a atuação dos pelegos sindicais e confundidos politicamente com as lideranças populistas, as mais antigas como Vargas, as mais recicladas como Goulart. Os comunistas, igualmente iludidos com o nacionalismo, reforçaram os laços, já apertados, da teia populista. A história dos trabalhadores, como é contada, não é nova e, independentemente de suas diversas versões, retoma uma longa tradição intelectual. Liberais e