A razão contra a Razão
23/07/2012
Em momentos críticos da história, mais que os cientistas, são os filósofos chamados a opinar. Numa famosa palestra numa rádio bávara em maio de 1952 Martin Heidegger usou uma palavra chocante, mas que possui um sentido profundo:”a ciência não pensa; isso não é nenhum defeito mas uma vantagem”. A vantagem reside em apenas analisar fatos, submetendo-os ao cálculo e tornando-os assim manipuláveis pela técnica. Escapa ao seu âmbito de interesse, a interrogação sobre o sentido dos fatos e do curso da história.
Se isso podia ser dito nos anos 50 do século passado, não seria responsável repeti-lo no tempo presente. Pois a ciência se desenvolveu numa direção que põe em cheque o sentido da razão e o destino de nossa civilização. Ou a ciência será feita com consciência e então incorporará uma dimensão ética, ou ela nos poderá destruir a todos. É o que nos alertam grandes nomes do pensamento contemporâneo, não só da filosofia mas das ciências da Terra, da nova cosmologia e da biologia.
Permanece, no entanto, a indagação que é objeto da matutação filosófica: por que e como chegamos à atual situação? Por que a razão mostra tanta irracionalidade?
Antes de mais nada, cabe identificar o equívoco que cometemos em nosso passado. Introduzimos uma ruptura entre a razão objetiva (ontológica) e a razão subjetiva. Quem o denunciou com grande acuidade foram Martin Heidegger (“Que significa pensar”,1952), Max Horkheimer (“Eclipse da razão”, 1946) e Theodor Adorno em parceria com Max Horkheimer (“A dialética do iluminismo”,1947). Eles mostraram que os clássicos gregos, passando pelo medievais e culminando em Hegel, a razão objetiva constituía um princípio inerente à realidade; desvelava o sentido latente das coisas e a estrutura de sua inteligibilidade. A ênfase era dada mais aos fins que aos meios. Essa razão objetiva se refletia na razão subjetiva que ouvia as orientações da primeira. O ser humano, a sociedade e a