A questão da pobreza
INTRODUÇÃO
A pobreza só pode ser entendida em função da riqueza e dos recursos de que dispõe uma sociedade para viver e se reproduzir. A pobreza existe quando se supõe que os bens provenientes da natureza e do trabalho não são suficientes para satisfazer as necessidades vitais e sociais de todos. A pobreza é, portanto, um conceito relativo.
Por mais que economistas, biólogos e antropólogos tenham tentado criar modelos universais de consumo médio para a vida e sobre-vida do homem, em qualquer tempo e lugar, tais tentativas só resultaram em estereótipos. Na realidade, cada grupo, em função do meio natural, dos produtos disponíveis e do seu estilo de vida, organiza m produção e reprodução de sua vida biológica e social. É em rela^» a essa organização que podemos avaliar a pobreza e a riqueza, a ae-ntíria e a abundância.
Não é apenas pela quantidade bruta de bens produzidos ou át energias consumidas por uma população que podemos caracteriz» uma sociedade como pobre ou rica. Só existe a pobreza em relaçãc i riqueza, isto é, só existe carência de alimentos, moradia, saúde, quando parte da população tem pouco ou nenhum acesso aos bens qne a sociedade efetivamente produz ou pode produzir.
Desse modo, a constatação de que sempre existiu pobreza ao mundo não decorre necessariamente de mau aproveitamento dos recursos naturais e humanos, mas do fato de que esses recursos, de alguma maneira, são mal distribuídos" socialmente.
A pobreza, portanto, não pode ser um conceito clássificatórk» proveniente da comparação entre sociedades diferentes tendo em visa o padrão das modernas sociedades de consumo. Ela se refere às condições de produção material de cada sociedade — seus recursos, bens, necessidades sociais — e à maneira pela qual se estabelece a pamcâ-pação dos indivíduos na distribuição do produto social. Existem sociedades que, apesar de contarem com recursos limitados, organizam formas mais igualitárias de distribuição dos bens sociais e