A psicologia clinica ampliada
Capítulo publicado em Dinorah Fernandes Gioia-Martins (Org.)
‘Psicologia e Saúde, Formação, Pesquisa e Prática Profissional’, São
Paulo, Vetor Editora, 2012, p.45-64. ISBN 978-85-7585-642-0
CUIDADO EMOCIONAL NA SAÚDE PÚBLICA:
A PSICOLOGIA CLÍNICA AMPLIADA
Vera Lucia Mencarelli1
Tânia Aiello-Vaisberg2
Universidade de São Paulo
A Psicologia Clínica surgiu, em nosso país, no contexto da prática privada de orientação psicanalítica destinada ao atendimento das classes mais abastadas. Deste modo, conjugavam-se estudos teóricos densos e profundos, sobre a experiência emocional humana, com uma visão bastante restrita em relação à realidade social. Este quadro, evidentemente problemático, suscitou, entre os psicólogos críticos, dois tipos de reação. Um grupo optou por repudiar a
Psicologia Clínica, atribuindo-lhe uma essência inevitavelmente reacionária. Para estes, as alternativas aceitáveis seriam encontradas numa Psicologia Social de caráter teórico investigativo ou numa
Psicologia Escolar que se recusasse a reproduzir atendimentos clínicos na instituição escolar. O outro grupo buscou transformar a
Psicologia Clínica, entendendo ser possível estender a coletivos, habitualmente excluídos da clínica psicológica, os benefícios oriundos dos conhecimentos psicanalíticos. Este segundo grupo encontrou nos escritos do psicanalista argentino José Bleger (1958; 1963; 1966), autor que se propôs uma leitura dialética da psicanálise, uma fundamentação teórica coerente e confiável, que lhes permitiu se engajar numa luta pela criação de postos de trabalho para psicólogos clínicos em equipamentos de saúde mental pública.
Em nosso país, ocorreu uma conjunção feliz, na medida em que o empenho dos psicólogos de superar uma prática meramente privada se articulou com a luta anti-manicomial brasileira que, ao
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Mestre e Doutora em Psicologia Clínica Pelo Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, Psicóloga Clínica do Ambulatório de Moléstias
Infecciosas do Programa DST/AIDS do