a produção da imparcialidade
A construção do discurso universal a partir da perspectiva jornalística*
Luis Felipe Miguel
Flávia Biroli
Introdução
Imparcialidade, neutralidade, objetividade: o valor-guia do jornalismo ainda é a pretensa capacidade de expor o mundo “tal qual ele é” a seus leitores, ouvintes ou espectadores. No entanto, os ideais de imparcialidade e objetividade
*
As discussões contidas neste artigo integram o projeto “Determinantes de gênero, visibilidade midiática e carreira política no Brasil”, financiado pelo CNPq e pela FAP-DF. Uma versão anterior foi apresentada no XVIII Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
(Compós), em Belo Horizonte, em junho de 2009.
Os autores agradecem aos participantes do encontro, pelas críticas e comentários, a Regina Dalcastagnè, pela leitura de uma versão inicial do texto, e aos pareceristas anônimos da RBCS.
Artigo recebido em abril/2009
Aprovado em maio/2010
permanecem em posição central na auto-imagem dos jornalistas, na constituição dos esquemas práticos de atribuição de valor a seu trabalho, na defesa desse trabalho diante das pressões internas e externas ao campo jornalístico e na construção de um referencial ético compartilhado pelos próprios jornalistas.
No caso do Brasil, pelo menos desde as reformas “modernizantes” da imprensa, em meados do século XX, este valor aparece, de forma recorrente.
Ainda que um certo tipo de crítica à noção de objetividade tenha se banalizado nas escolas de jornalismo e mesmo dentro das redações, o recurso a ela permanece central no entendimento que homens e mulheres de imprensa têm sobre seu próprio fazer, seja no Brasil (Hohlfeldt, 2001; Ribeiro, 2002;
Sponholz, 2008), nos Estados Unidos (Johnstone,
Slwaski e Bowman, 1972; Mindich, 1998; Lane,
2001) ou na Europa (Donsbach e Klett, 1993; Sponholz, 2004).
RBCS Vol. 25 n° 73 junho/2010
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